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O polvo observador

07 Mar 2012 - 21h06 - 2.418 caracteres
Género: Crónicas. Áreas: Biologia
Por: Diana Barbosa

Qualquer orgulhoso dono de um cão ou gato dirá que o seu animal de estimação o consegue reconhecer. Esta afirmação não será novidade para o leitor. Na verdade, muitas espécies de animais são capazes de reconhecer pessoas individualmente. Mas, como é que sabemos isso? E, mais estranho ainda...e se esse animal for um polvo?

Há muitas histórias anedóticas de tratadores que acham que os polvos nos aquários os reconhecem e discriminam em relação a outras pessoas (por exemplo, aproximando-se do tratador, mesmo que este esteja num grupo). A confirmar-se esta hipótese, isso significaria que o polvo é capaz de executar mais uma complexa tarefa, uma vez que conseguiria discriminar, aprender e recordar! O polvo tem-se revelado um animal extraordinário em muitos aspectos e muitos estudiosos dos moluscos, e do comportamento animal em geral, não duvidarão desta sua capacidade, já que os consideram um dos animais mais interessantes do planeta. Mas, como sempre acontece em ciência, são necessárias provas claras.

E é aí que entram os protagonistas desta investigação: Roland C. Anderson, do Aquário de Seattle (EUA) e os seus colaboradores. Usando como modelo de estudo o polvo-gigante-do-Pacífico (Enteroctopus dofleini) testaram se era ou não verdade que os polvos reconhecem e discriminam seres humanos individualmente. Para isso, montaram uma experiência curiosa: cada polvo recém-capturado era observado duas vezes por dia por dois investigadores diferentes vestidos com roupa igual; um dos observadores, para além de tomar notas do comportamento do animal, alimentava-o; o outro, tomava as mesmas notas mas "cutucava" o polvo com um pau (algo inofensivo, mas seguramente irritante para o animal). No princípio do estudo, os polvos geralmente fugiam de ambos os investigadores desconhecidos. Mas, à segunda semana, já se notava que os polvos se aproximavam dos investigadores que os alimentavam, não mostrando sinais de stress. Pelo contrário, afastavam-se do outro investigador (o “mau da fita”), mostrando vários sinais de stress.

Confirmou-se assim que a impressão de muitos tratadores era real e que também os polvos reconhecem pessoas de forma individual, para além de outros feitos fantásticos já demonstrados (expressão de personalidade, habilidades de aprendizagem e memória, excelente detecção visual e olfactiva e camuflagem “inventiva”).

Não voltará a olhar o polvo com os mesmos olhos...E ele, como o verá?


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Diana Barbosa

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