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Há informação na comunicação?

26 Fev 2012 - 20h49 - 2.784 caracteres

Os conceitos de informação e comunicação parecem estar intrinsecamente ligados. Afinal de contas, numa perspetiva humana, o que é que comunicamos, senão informação? Mas esse pode ser um problema: a nossa perspetiva humana.

Para quem estuda o comportamento animal, os etólogos, estes dois conceitos não estão necessariamente associados. Sendo a comunicação animal um dos temas mais estudados da etologia, a definição da mesma tem sofrido várias alterações ao longo dos tempos e parece não ser consensual. De facto, recentemente, alguns autores sugeriram que na definição de comunicação animal não deveria ser incluído o conceito de informação. Porquê? Porque, por vezes, parece que se procuram significados similares aos da linguagem humana na comunicação animal quando, na verdade, eles não têm necessariamente que existir. E, embora seja fácil e até metaforicamente interessante imaginar que, quando dois pássaros cantam, estão a falar entre eles, a verdade é que não é isso que acontece. Propunham-se então definições de comunicação animal que excluíssem qualquer metáfora que pudesse levar a este erro, excluindo o conceito de informação. A comunicação deveria ser entendida apenas pelos efeitos que produz no recetor de determinado sinal.

Sendo certo que esses erros são por vezes cometidos. Pau Carazo e Enrique Font, investigadores da Universidade de Valência (Espanha), em dois interessantes artigos nas revista Journal of Evolutionary Biology e Animal Behavior argumentam, no entanto, que é possível usar o conceito de informação sem cair no erro do antropomorfismo (da busca de um valor linguístico, neste caso). Estes autores propõem uma nova forma de encarar a comunicação, que inclui um conceito funcional de informação e que, ao mesmo tempo, é mais ampla e reflete melhor os cenários evolutivos que terão moldado os sinais dos animais.

O que é então a informação funcional? Pode ser definida como o atributo(s) que o emissor e/ou o ambiente possuem que se correlaciona com as características do design de um determinado sinal e que é responsável pela evolução ou manutenção da resposta a esse sinal, ou seja, pelo seu efeito.

Com esta definição, não se entra em metáforas linguísticas e define-se informação na sua relação direta com o fitness do recetor. Esta definição facilita também a distinção entre sinais honestos e sinais decetivos, ou seja, tem em conta o carácter manipulador que a comunicação pode ter e a evolução e adaptação biológicas, o que é muito importante.

Parece que, por agora, podemos afirmar que há informação na comunicação, embora seja necessária cautela na forma como se integram esses dois conceitos.

 

Diana Barbosa

 

Fontes:

                Carazo, P., Font, E. 2010. Journal of Evolutionary Biology, 23, 661-669.

                Font, E., Carazo, P. 2010. Animal Behaviour, 80, e1-e6.


© 2012 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Diana Barbosa

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