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Os acontecimentos científicos mais relevantes de 2011 (I)

01 Jan 2012 - 14h47 - 3.512 caracteres

O ano de 2011 foi espantoso em avanços e descobertas científicas assim como em empreendimentos tecnológicos fruto do engenho humano.

Revisitar as descobertas que foram divulgadas durante o ano de 2011 é fazer uma viagem desde as partículas subatómicas até às fronteiras longínquas do espaço e do tempo no Universo que a instrumentação e a técnica actual nos permitem observar. Desde as catedrais da engenharia do século XXI, que são os impressionantes aceleradores e detectores de partículas, até à aplicação do conhecimento actual sobre as radiações electromagnéticas e sobre a força da gravidade que nos permitem enviar satélites pioneiros, 2011 suplantou a melhor ficção científica. Ou melhor, deu substrato para um imaginário novo e surpreendente, fornalha da imaginação, centelha para a descoberta. Em 2011 foi estabelecido novo record no número de exoplanetas descobertos, possíveis mundos acolhedores de uma insuspeita forma de vida, inclusive de planetas semelhantes à Terra.

Foram igualmente surpreendentes os avanços registados na biologia e na medicina, na compreensão das moléculas da vida, na detecção e visualização dos processos neuronais e das suas vias que, complexamente, são substância da nossa consciência, da nossa memória, de um “eu” que se observa e estuda reflexivamente imerso em ciência e tecnologia.

De facto, vivemos uma época em que estamos rodeados, de uma ou de outra maneira, em concretizações da ciência e da tecnologia, fruto de um número cada vez maior de seres humanos a fazer ciência e a aplicá-la em tecnologias que permitem feitos surpreendentes. Por exemplo, existem mais matemáticos hoje em dia em actividade do que em toda a história passada da Matemática! O mesmo se poderia dizer para todas as outras áreas científicas.

Existe um verdadeiro exército de investigadores de excelência que se empenham diariamente na compreensão dos mecanismos moleculares que estão na origem de doenças e se aplicam quase ininterruptamente na descoberta de soluções que se possam aplicar no seu controle, ou mesmo na sua irradicação. Por isso, e também pelo esforço financeiro neles aplicados, são atingidos resultados muito antes do previsto. Por exemplo, o ano de 2011 fica para a história como o ano da antecipação na obtenção dos resultados de uma estratégia (designada por HPTN 052 - http://www.hptn.org/research_studies/hptn052.asp) de prevenção para reduzir drasticamente a capacidade de transmissão via sexual do HIV por seropositivos. Os resultados esperados só para 2015 foram alcançados este ano! Nesta luta contra o HIV, aproxima-se uma batalha que poderá permitir salvar milhões de vidas e aumentar a longevidade e qualidade de vida aos portadores do vírus.

Nas escolhas para as descobertas que marcam 2011, a referida atrás foi a escolhida como principal pela revista “Science” (http://www.sciencemag.org), mas também incluída na selecção efectuada pela outra principal revista generalista de ciência, a “Nature” (http://www.nature.com).

Outro avanço de destaque indiscutível recai para a apresentação da primeira vacina (a  RTS,S/AS01) para a Malária, doença que mata mais de 500 milhões de pessoas todos os anos, causada por protozoários parasitas do género Plasmodium transmitidos pela picada do mosquito fêmea do género Anopheles. Apesar de esta vacina ter apresentado uma baixa eficácia em formas severas da malária, e de estar ainda envolta em polémica a não publicação de todos os resultados proclamados pela empresa farmacêutica que a está a desenvolver, é de destacar a sua apresentação pelo esforço que se está a desenvolver na luta contra esta doença. 

 

(Contínua)


© 2012 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


António Piedade

António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.


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