90% do caro leitor foi feito nas estrelas
Por: António Piedade
A colecção “Ciência Aberta”, da editora Gradiva, que recebeu em 2012 o Grande Prémio Ciência Viva, tem desempenhado um papel incontornável para a divulgação científica entre nós. Em quase 35 anos de existência, permitiu aceder na língua de Camões ao que de melhor se escreve internacionalmente na divulgação da ciência, incluindo autores como Carl Sagan, Hubert Reeves, Richard Feynman, Stephen HawKing, entre muitos, muitos outros. São até ao momento 216 títulos fundadores para uma ampla cultura científica e também, diga-se, humanística.
É importante sublinhar que a “Ciência Aberta” deu sempre lugar aos autores portugueses, abrindo as suas portas à “divulgação científica portuguesa”. Esta boa tendência até se acentuou nos últimos anos, principalmente desde que Carlos Fiolhais é o seu director (exactamente a partir do número 201): em 18 títulos, metade são de autores portugueses! Isto também revela que a comunicação e divulgação de ciência têm crescido em Portugal nos últimos anos.
E é sobre um novo autor português da colecção “Ciência Aberta” que me irei debruçar a seguir.
Se voltar a ler o título desta crónica, encontrará o título do último volume da colecção que estamos a referir. Contudo, falta neste título um asterisco, que aparece na capa do livro, e que remete à informação de que os 90% se referem à “percentagem em massa”. O autor deste livro que tem o número 216 na “Ciência Aberta”, é o astrónomo e matemático Alexandre Aibéo, um dos nossos melhores comunicadores de ciência, mais especificamente na área da astronomia. Foi vencedor, em 2010, da primeira edição do concurso FAMELAB – Comunicar Ciência em Portugal, o que muito diz sobre a sua grande qualidade em comunicar bem e de forma acessível e aprazível a todos. E esta qualidade é um perfume que emana ao longo deste seu novo livro através da sua escrita.
Diga-se que este é o segundo livro de Alexandre Aibéo. O seu primeiro foi um muito inspirado e singular “Isto não é (Só) Matemática” (editado pela Quidnovi), sobre o qual Nuno Markl disse que trouxe sex-appeal à matemática.
Este novo livro é sobre a observação do Universo, sobre a astronomia, área que o autor domina bem. E está escrito numa linguagem muito acessível, num tom coloquial que transporta o leitor para uma conversa imaginária com o autor: e essa conversa é tão boa que não se dá pelo tempo a passar. E há também um tom humorístico, não exagerado, que convive muito bem com o rigor científico que o autor imprime à sua escrita, o que torna a leitura deste livro muito agradável e descontraída.
Este livro teve como ponto de partida, segundo o autor, a passagem para este formato de diversas palestras sobre astronomia que tem dado nos últimos anos um pouco por todo o país, em escolas mas não só. A sua grande experiência na exposição e interacção de públicos variados com a astronomia é assim a matriz de que partiu para a escrita deste livro muito útil para quem quer compreender como é que esta ciência nos permite entender o Universo, desde o cálculo “manual” da distância da Terra à Lua, até aos primeiros instantes após o Big Bang.
Para além do conhecimento sobre astronomia que Alexandre Aibéo transmite acessivelmente a qualquer leitor, é de sublinhar o cuidado com a contextualização histórica dos avanços e das descobertas astronómicas. Ao ler este livro, para além de viagens imaginárias às estrelas e galáxias, também fazemos uma viagem pela história da humanidade.
Por fim, dizer que depois de lermos este livro ficamos mais ricos (de conhecimento) e inteligentes: é que o autor também nos ensina a pensar com sentido crítico o que é essencial para sermos melhores pessoas e cidadãos.
© 2016 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
António Piedade
António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.
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