O que há de novo com as aves das Ilhas Galápagos?
Por: Cristina Pinto / Universidade de Coimbra
Aves das Galápagos incluem mais de 100 espécies de flores na sua dieta para compensar a falta de insetos, revela estudo internacional.
Até aqui, a história da ecologia e evolução das aves das ilhas Galápagos contava-se essencialmente com a necessidade de se alimentarem de insetos e sementes. Mas um estudo agora publicado na revista “Nature Communications”, do grupo Nature, mostra pela primeira vez que, afinal, estas aves, incluindo os famosos tentilhões de Darwin, também se alimentam em larga escala de néctar e pólen de mais de 100 espécies de flores, acrescentando uma nova peça na compreensão da ecologia das espécies insulares.
Ao longo de quatro anos, uma equipa multidisciplinar de investigadores de Espanha, Equador, Dinamarca e Portugal, através do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra (UC), procedeu à identificação dos grãos de pólen transportados no bico de aves de 19 das 23 espécies existentes nas Galápagos. Mais de 700 aves foram capturadas e libertadas após a colheita do pólen, e a informação recolhida foi depois processada com recurso a técnicas de análise de redes complexas.
A principal novidade do estudo é que praticamente todas as aves das Galápagos adotaram a mesma estratégia, ou seja, alimentando-se massivamente de flores ao longo de todo o ano e em todas as ilhas, independentemente da dieta típica dos seus antepassados vindos da América do Sul.
A mudança observada, explica o investigador do Centro de Ecologia Funcional da UC que participou no estudo, Ruben Heleno, «introduz uma nova peça que pode ser muito importante no puzzle que é a evolução e a ecologia das espécies insulares. A escassez de insetos obrigou muitos animais tipicamente insectívoros e granívoros a incluírem na sua dieta recursos florais mais abundantes, como pólen e néctar. Este alargamento na dieta leva a que as aves das Galápagos se tornem massivamente mais generalistas, consumindo uma diversidade de flores muito maior do que a das aves na américa continental».
Este estudo expõe também as fragilidades do ecossistema das ilhas Galápagos porque, assevera o investigador, «se por um lado, as aves ganham um recurso alimentar e simultaneamente as flores beneficiam porque são polinizadas pela ação das aves, podendo assim produzir mais frutos e mais sementes; por outro, representa também uma ameaça uma vez que ao visitar e polinizar as plantas introduzidas pelo Homem nestes frágeis ecossistemas insulares, as aves podem acelerar a progressão de plantas invasoras e a destruição dos habitats únicos das Galápagos».
Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa - Universidade de Coimbra)
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