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2015 vai ter mais um segundo

26 Jan 2015 - 12h14 - 3.608 caracteres
Género: Artigos. Áreas: Física
Por: António Piedade

Sabemos que a Terra tem um movimento de rotação em torno do seu eixo. Temos a ideia de que um dia é o intervalo de tempo para a Terra dar uma volta completa. Mas o que porventura nem todos saibamos é que a velocidade de rotação da Terra está a diminuir. E que a duração do dia solar não é a mesma ao longo do ano. Estes factos obrigam a correcções na chamada Hora Civil.

A Hora Civil, em qualquer país, determina-se em relação à posição média do sol no céu local. Mas como a duração do dia solar não é constante durante o ano, há diferenças entre a hora solar verdadeira e a Hora Civil que tem uma progressão uniforme. Historicamente, definiu-se a escala de tempo UT1 baseada na duração média da rotação da Terra que, actualmente, é medida em relação às posições celestes dos quasares mais distantes.

A rotação da Terra é estudada com rigor e medida com precisão atómica, desde 1972, pelo Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra (sigla IERS, do inglês International Earth Rotation Service), do Observatório de Paris.

A introdução de uma rede de relógios atómicos para medir com maior precisão a passagem do tempo e definir a escala do Tempo Atómico Internacional (TAI), verificou existir uma diferença de dezenas de segundos para com a hora então usada (UT1).

Desde então, efectuam-se correcções regulares para tentar acertar os relógios astronómicos com os atómicos. O último acerto foi em 2012.

De facto, a necessidade de coordenação entre as escalas do Tempo Atómico, definido pelos relógios atómicos, e do Tempo Astronómico (escala UT1 definida pela rotação real da Terra) conduz ocasionalmente à introdução de “segundos intercalares” no Tempo Universal Coordenado (UTC), para que a diferença entre ambas (UT1-UTC) permaneça inferior a 1 segundo.

Para manter esta proximidade temporal, o IERS determinou ser necessária a introdução de um “segundo intercalar” no UTC, que define actualmente a Hora Legal Civil, no final de Junho de 2015.

Assim, e em Portugal continental, e em termos práticos, será necessário “parar” os relógios durante um segundo quando forem 00h 59m 59s do dia 1 de Julho.

Diga-se ainda que a necessidade deste acerto provém ainda do facto da duração do “segundo” no Sistema Internacional de Unidades (ligado à escala TAI) ser mais curta do que a duração actual do “segundo UT1″ da rotação da Terra. Ou seja, a rotação completa da Terra dura cada vez mais tempo na escala TAI.

O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) é a instituição que tem a incumbência legal de manter e distribuir a Hora Legal em Portugal.

Para acertar o seu relógio, e o do seu computador, com a hora certa e acompanhar a introdução do segundo intercalar, siga as instruções indicadas no sítio na Internet do OAL: http://oal.ul.pt/hora-legal/como-acertar/

António Piedade


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António Piedade

António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.


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