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Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina 2014

06 Out 2014 - 18h34 - 2.796 caracteres

As neurociências estão de parabéns. O prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina deste ano foi atribuído a três neurocientistas: John O’Keefe, investigador no University College London, no Reino Unido, e o casal May-Britt e Edvard Moser, investigadores na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim. O galardão foi atribuído pelos seus trabalhos que levaram à descoberta “de células que constituem um sistema de posicionamento no cérebro”, anunciou o comité do Nobel no Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia). Mais precisamente, este “GPS interno” cerebral “permite orientarmo-nos no espaço e demonstra a existência de uma base celular para uma função cognitiva de alto nível”, diz ainda o comité Nobel em comunicado.

John O’Keefe descobriu o primeiro componente deste sistema de posicionamento em 1971, refere o comunicado de imprensa. Nos cérebros dos ratos de laboratório que estudava verificou que, consoante a posição que os ratos ocupam na sala, havia áreas diferentes do hipocampo – uma região do cérebro localizada nos lobos temporais  – a serem activadas. Chamou “células de posicionamento” (place cells) a estas células do hipocampo – uma área normalmente relacionada com a memória que conseguia, também neste caso, guardar a informação de posicionamento registada em cada momento pelo rato.

Mais de 30 anos depois, em 2005, May-Britt e Edvard Moser descobriam outro componente deste sistema de posicionamento a que chamaram “células em grelha” (grid cells), localizadas no córtex entorrinal – uma região do cérebro ligada ao hipocampo. Essas células geram um sistema de coordenadas e permitem ter a perceção não só do local onde se encontram, mas de como encontrar o caminho.

É este sistema que nos permite ir de um local a outro sem nos perdermos, que nos permite ter uma percepção da nossa posição no espaço.

Uma vez que em doenças neurodegenerativas com a doença de Alzheimer aquelas áreas cerebrais são afectadas, “a compreensão deste sistema de posicionamento global do cérebro poderá ajudar a perceber o mecanismo subjacente à devastadora perda de memória espacial que afecta as pessoas que padecem com aquela doença”, salienta o comunicado Nobel.


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António Piedade

António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.


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