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As minhas bactérias são diferentes das tuas

02 Set 2014 - 12h39 - 2.845 caracteres

Durante milhares de anos desconhecemos que estamos rodeados de bactérias, que também colonizam o nosso corpo. Só depois da invenção do microscópio e nos finais do século XVII é que a existência de seres microscópicos foi descoberta. O holândes Antonie van Leeuwenhoek terá sido o primeiro ser humano a observar microrganismos. Mas mal sabia ele sobre a relação importante que mantemos com eles.

Vivem dentro de nós, na nossa pele, na nossa casa. São milhões e milhões de bactérias que nos acompanham desde que nascemos, que influenciam os nossos estados de saúde, de doença, o nosso humor e relações afectivas.

Esta convivência com seres microscópicos foi alvo de um estudo agora foi publicado num artigo na revista Science (http://www.sciencemag.org/content/345/6200/1048). No geral, o estudo mostra que cada um de nós vive rodeado por um conjunto de bactérias que é característico de cada um de nós. É como se para além da nossa própria identidade tivéssemos um conjunto de bactérias que nos é característico e que se move connosco. 

O estudo mostra que os locais onde passamos mais tempo, casa, trabalho, estão povoados por um conjunto de bactérias específico a cada um de nós. Se mudarmos de casa, as bactérias também mudam! O nosso local de trabalho está repleto de bactérias que estão em íntima relação connosco. Se mudarmos de trabalho as nossas bactérias acompanham-nos.

O artigo também mostra que partilhamos com os nossos familiares um conjunto de bactérias semelhante. Quanto mais próxima a relação mais idênticas são as espécies de bactérias que partilhamos. Há assim, pode dizer-se, um conjunto de bactérias que fazem parte da nossa família!

A relação entre nós e as nossas bactérias é importante e decisiva no tratamento e transmissão de doenças. O estudo sugere que uma alteração no ambiente bacteriano com que vivemos pode influenciar o nosso estado de saúde. Assim, a caracterização das bactérias que nos acompanham é importante para uma melhor compreensão e gestão da nossa saúde no século XXI.

Depois deste estudo abrem-se as portas para que num futuro próximo passemos a possuir uma espécie de boletim microbiano que nos identifica, o nosso próprio microbioma. Um retrato das nossas bactérias.

 

António Piedade   


© 2014 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


António Piedade

António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.


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