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Um Céu Mais Perfeito

26 Out 2012 - 19h04 - 3.500 caracteres

Desde o “Nascer do Sol” ao “Pôr-do-sol”.

O trânsito do astro rei no firmamento marca desde sempre a actividade da vida nas sociedades humanas, em particular, e de toda a vida em geral. Aquelas duas expressões estão presentes em muitas, se não mesmo em todas as línguas humanas.

Nos outros seres vivos, que connosco coabitam este planeta, estão também identificados sons anunciadores daqueles acontecimentos celestes. Quem não se recorda ou ainda acerta o seu acordar pelo cantar do galo a romper a madrugada num anúncio de luz? Ou o chilrear da passarada a discutir o condomínio de um ramo ao anoitecer?

É assim desde que há memória, desde que há história. Os sentidos assim nos iludiram durante milhares ou mesmo milhões de anos: é o Sol que se move ao redor da Terra, que irrompe o dia a nascente, que encerra a jornada a poente, num ciclo eterno. Mas será mesmo assim como as línguas e os nossos sentidos nos dizem? O que fez com que alguém pusesse a hipótese de poder ser diferente? A progressiva observação do céu, o registo meticuloso e acumulado ao longo de séculos do movimento dos outros planetas visíveis a olho nu.

O modelo geocêntrico servia para a organização da vida humana na Terra, mas era insuficiente para compreender a organização, o comportamento dos astros no céu. Incompleto para o conhecimento, última morada do destino humano. Mas para romper com a ilusão sensorial sedimentada pelos poderes seculares e intemporais, doutrinas centradas no umbigo da humanidade, foi preciso a coragem de alguns para erguer a verdade, qual vela acesa, na noite escura.

Por volta de 1510, o polaco Nicolau Copérnico (1473 – 1543), então com cerca de 40 anos de idade, estabeleceu uma nova concepção do nosso sistema solar, na qual o Sol, em vez da Terra, estava no centro: o modelo heliocêntrico. Mas, com um medo visceral de poder ser alvo da chacota dos seus colegas matemáticos e da irra de outros senhores, ocultou a sua teoria durante outros 40 anos!

O que é que fez com que tivesse mudado de ideias e escrito as suas teorias no livro “Das Revoluções dos Corpos Celestes”, que marca o início de uma nova era para o conhecimento e para o lugar da humanidade no Cosmos? Um jovem matemático alemão de nome Georg Rheticus (1514 – 1574). Foi Rheticus quem convenceu Copérnico e levou o manuscrito para que este fosse impresso em 1539 em Nuremberga, no melhor impressor de textos científicos da Europa de então.

Ninguém sabe até hoje como é que Rheticus terá convencido o seu mestre a mudar de ideias quanto à publicação da obra que tanto impacto causou até hoje. É neste epicentro misterioso e de confronto de personalidades e circunstâncias da história do séc. XVI que a premiada escritora Dava Sobel (que foi editora de ciência do New York Times) desenvolve e nos oferece mais um livro soberbo.

Em “Um Céu mais Perfeito – Como Copérnico revolucionou o cosmos”, publicado em Setembro de 2012 pela Temas e Debates e pelo Círculo de Leitores, Dava Sobel, com a mesma maestria cativante presente em “Longitude” e “A Filha de Galileu” (publicados entre nós pela Temas e Debates) narra-nos a vida de Nicolau Copérnico. Apresenta-nos, numa primeira parte, o ser humano na antecâmara da obra que o celebrizou como um dos gigantes da ciência moderna, assim como descreve as consequências e o impacto da sua publicação, o que apresenta na terceira e última parte do livro.

Na parte segunda e parte central (“E o Sol Imobilizou-se”), Dava Sobel coloca-nos como espectadores privilegiados de um diálogo, em dois actos, entre Copérnico e Rheticus. Baseando-se em “palavras que eles escreveram em diversas cartas e tratados”, a autora tece, num contexto histórico e factual, uma ficção sobre como Rheticus terá persuadido Copérnico a deixar que o seu manuscrito visse a luz do dia.

Com este livro somos transportados até ao debate crucial ocorrido em meados do séc. XVI, que redefiniu o nosso lugar no Cosmos. Entre séculos e séculos de alvoradas e ocasos, a Terra sempre girou ao redor do Sol. A consciência deste conhecimento não nos retirou qualquer fascínio com o esplendor do nascer e do pôr-do-sol, os quais continuam a fertilizar a nossa emotividade e poesia. Este é um livro a ler entre qualquer um desses momentos, à luz da nossa humanidade.

 

António Piedade

 

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

Ficha Bibliográfica
Título: Um Céu Mais Perfeito
Autor: Dava Sobel
Editor: Temas e Debates
Ano de edição: 2012
ISBN: 9789896441814
Número de páginas: 316
Edição: 1ª em Setembro de 2012
Encadernação: Brochado


© 2012 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


António Piedade

António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.


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