As cores do pensamento – A arte abstrata dos neurónios
Por: António Piedade
Os Jardins da Fundação Gulbenkian e a Praça do Comércio preparam-se para acolher uma exposição inédita: painéis onde representações visuais do cérebro em grande formato estão lado a lado com reproduções de obras de arte, algumas das quais pertencentes às coleções do Museu Gulbenkian e do CAM, de artistas como René Lalique e Manuel Cargaleiro. Mas outros nomes consagrados são igualmente convocados para esta mostra: William Turner, Claude Monet, Gustav Klimt, Edvard Munch, Robert Delaunay ou Salvador Dalí.
Em cada obra de arte projetam-se, de um modo indefinível, talento, técnica, memórias, experiências pessoais, que se entrecruzam numa rede muito complexa de relações celulares e se organizam em funções cerebrais variadas. A capacidade do cérebro humano para a integração multissensorial deve-se ao imenso desenvolvimento de conectividades que, comandando funções distintas, estão estreitamente ligadas entre si por feixes de fibras nervosas.
Para investigar esta conectividade, a ciência moderna desenvolveu tecnologias muito sofisticadas como o método Brainbow, ou arco-íris do cérebro, que permite reconhecer as células cinzentas e as fibras brancas através de uma miríade de cores fluorescentes, e a abordagem Connectomics, que distingue os neurónios que estão ligados entre si, produzindo um mapa fascinante de afinidades sinápticas, visualizado a três dimensões.
Os investigadores da área das neurociências utilizam as cores vivas destas representações, feitas através de imagens que parecem retirar “a sua inspiração” de obras de artistas consagrados e, por isso, são apresentadas lado a lado, como se constituíssem uma verdadeira arte abstrata dos neurónios.
Esta exposição realizou-se pela primeira vez em 2011, em Milão. Em 2012, recria-se em Paris, Deauville, Mónaco e também em Lisboa, por iniciativa da Fundação Gulbenkian e da Universidade Hebraica de Jerusalém, através do Edmond & Lily Safra Centre for Brain Sciences.
Em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, a exposição As Cores do Pensamento – A Arte Abstrata dos Neurónios apresenta-se ainda, em simultâneo e numa versão mais alargada, na Praça do Comércio. Esta exposição complementa a conferência agendada para dias 9 e 10 de outubro sobre o Cérebro, no Fórum Gulbenkian de Saúde 2012.
Sara Pais (IGC)
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António Piedade
António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.
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