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Trânsito de Vénus – compreender o nosso mundo

11 Jun 2012 - 12h23 - 2.600 caracteres

António Piedade (AP) - Em que é que consistiu o trânsito de Vénus?

João Fernades (JF) - Um trânsito planetário é um fenómeno astronómico que ocorre quando um planeta interior (Vénus ou Mercúrio) se interpõe entre a Terra e o Sol, ou seja, quando se produz um alinhamento Terra-Planeta-Sol. Trata-se de um fenómeno em tudo semelhante a um eclipse, com a diferença do planeta não ocultar significativamente o disco solar. O que se viu nos passados dias 5 e 6 foi um pequenino disco preto – Vénus – a passar em frente do Sol.

 

AP - Porque é que o próximo só ocorrerá em 2117?

JF - Os trânsitos são fenómenos raros pelo facto de serem diferente as velocidade de Vénus e da Terra, nas suas órbitas em torno do Sol, e também pelas órbitas destes dois planetas estarem em planos diferentes, inclinados um em relação ao outro. Até hoje foram observados, com telescópios, trânsitos de Vénus nas seguintes datas: 1639, 1761, 1769, 1874, 1882 e 2004. Assim, os trânsitos de Vénus repetem-se nos seguintes intervalos de tempo: 8 anos, 121.5 anos, 8 anos e 105.5 anos. O próximo será só em 2117.

 

AP - Porque é que a observação do trânsito de Vénus é tão importante para a
astronomia?

JF - Curiosamente o trânsito de Vénus alia o facto de ser um fenómeno mediático ao, ainda, interesse científico. E os motivos são vários. Antes de mais, o estudo do movimento de Vénus a atravessar o disco solar pode ajudar a estabelecer o valor das dimensões do Sol (em particular o seu diâmetro); por outro lado, o estudo do trânsito permite igualmente estudar a estrutura da própria atmosfera de Vénus; para finalizar, e não menos importante, um fenómeno como o de um trânsito é uma excelente oportunidade para falar a todos sobre Ciência em geral e Astronomia em particular.

 

AP - Porque é que a observação do trânsito de Vénus permite conhecermos melhor a história do nosso sistema solar e, claro está, da própria Terra?

JF - O trânsito de Vénus está indelevelmente ancorado à determinação da distância da Terra ao Sol, a unidade astronómica, medida padrão para o Sistema Solar. A observação dos trânsitos de 1761 e 1769 foram alvo de centenas de expedições e missões científicas para, num esforço internacional, conseguir contribuir com dados (como por exemplo, as horas de início e fim do trânsito) que permitissem, com a melhor precisão possível, determinar a unidade astronómica. Hoje sabemos que este valor se situa próximo dos 150 milhões de quilómetros. Para além disso, o estudo do movimento de Vénus (durante o trânsito) pode ajudar a desenvolver a teoria da Mecânica Celeste que permite prever quando e onde são visíveis os fenómenos astronómicos.

 

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António Piedade

António Piedade é Bioquímico e Comunicador de Ciência. Publicou mais 700 artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de nove livros de divulgação de ciência: "Íris Científica" (Mar da Palavra, 2005 - Plano Nacional de Leitura),"Caminhos de Ciência" com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa Universidade de Coimbra, 2011), "Silêncio Prodigioso" (Ed. autor, 2012), "Íris Científica 2" (Ed. autor, 2014), "Diálogos com Ciência" (Ed. autor, 2015) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Íris Científica 3" (Ed. autor, 2016), "Íris Científica 4" (Ed. autor, 2017), "Íris Científica 5" (Ed. autor) prefaciado por Carlos Fiolhais, "Diálogos com Ciência" (Ed. Trinta por um Linha, 2019 - Plano Nacional de Leitura) prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, entre os quais, o já muito popular "Ciência às Seis". Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.


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