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Equívocos sobre a evolução biológica (I)

27 Fev 2012 - 20h59 - 2.836 caracteres

“A Seleção Natural  faz com que os indivíduos se modifiquem para se adaptarem ao seu meio”

 

 

À primeira leitura, esta frase até pode fazer sentido...Não é certo que nós tentamos adaptar-nos às circunstâncias conforme necessário? Sim, mas isso não é evolução por seleção natural.

Esta é uma visão que vem da teoria de evolução proposta pelo naturalista francês Lamarck, que implicava a hereditariedade de características adquiridas. O que quer isto dizer? Que os seres vivos, ao tentarem adaptar-se ao seu meio, sofriam alterações anatómicas e essas eram passadas à sua descendência. Esta explicação há muito foi abandonada pelos cientistas e só ocorre em casos muito raros.

Como funciona então a seleção natural, proposta pelo naturalista inglês Charles Darwin e hoje aceite como um dos processos responsáveis pela evolução? Pense na nossa espécie, Homo sapiens. São todos os indivíduos iguais? Não: há pessoas de diferente altura, com diferente cor de cabelo, de olhos, de pele, etc. Estas diferenças que nos parecem tão evidentes na nossa espécie existem em todos os seres vivos! E, pequenas diferenças na anatomia ou no comportamento levam a que diferentes indivíduos tenham diferente capacidade para sobreviver e se reproduzir. Num determinado momento e num determinado local, certos indivíduos têm uma pequena vantagem de sobrevivência, reproduzem-se mais facilmente e deixam mais descendentes. Os descendentes vão herdar as características dos progenitores e, deste modo, aumentar a frequência dessas características na população. Ao longo do tempo, temos a “ilusão” de que a espécie se foi modificando. Na verdade, assim nascem novas espécies! Mas não é pela transformação individual, mas sim pela sobrevivência diferencial de indivíduos com certas características.

Em exemplo recente: lia-se há pouco tempo nas notícias que os cavalos teriam diminuído de tamanho devido às condições ambientais de há 56 milhões de anos atrás. Primeiro, há que perceber que esses cavalos nem sequer eram do mesmo género que existe atualmente (Equus), mas sim uma espécie primitiva do género Sifrhippus. Estes pequenos cavalos pesavam cerca de 6Kg, mas verificou-se que, com o passar do tempo e o aumento da temperatura, os fósseis encontrados são de animais cada vez mais pequenos, até cerca de 4Kg, voltando depois a aumentar de tamanho para cerca de 7Kg. Isto ao longo de quase 200 mil anos. Com o aumento da temperatura, os cavalos que nasciam ligeiramente mais pequenos tinham algumas vantagens e portanto sobreviviam mais tempo e tinham mais descendentes, por sua vez também pequenos. Como resultado, ao longo de milhares de anos, o tamanho médio da espécie diminuiu e aumentou.

 

Diana Barbosa

 

Fonte: Ross Secord et al. (2012) Science 335: 959-962

 

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 


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