Registo | Contactos

O brilho invisível do Universo primordial

01 Out 2018 - 17h17 - caracteres

Observações efetuadas com o espectrógrafo MUSE, que contam com a colaboração do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, observaram o brilho “invisível” das nuvens de hidrogénio à volta de galáxias no Universo primitivo.

 

Num artigo, publicado online no dia 1 de Outubro de 2018 na revista Nature (https://www.nature.com/articles/s41586-018-0564-6), uma equipa internacional, que inclui o investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) Jarle Brinchmann, descreve o rastreio espectroscópio que realizou à região do céu conhecida como Campo Ultra Profundo do Hubble (HUDF), onde foi detetada uma abundância inesperada de emissão do tipo Lyman-alfa, que preenche todo o campo de visão, levando a equipa a extrapolar que o céu estará preenchido com um brilho invisível de emissão Lyman-alfa, emitida no início do Universo. A radiação de Lyman-alfa é produzida quando eletrões no átomo de hidrogénio decaem do segundo nível para o primeiro nível de energia. A quantidade de energia perdida é libertada sob a forma de radiação com um comprimento de onda específico, na banda do ultravioleta. Devido ao desvio para o vermelho, resultante da velocidade de afastamento destas galáxias distantes, a radiação de Lyman-alfa das galáxias observadas pelo espectrógrafo MUSE é observada na banda do visível ou do infravermelho próximo.

Jarle Brinchmann (IA e Universidade do Porto) comenta: “Quando olhamos para as imagens mais profundas do Universo, pensamos nas galáxias como pequenas ilhas de luz num imenso mar de escuridão. Estas observações revelaram que o Universo não é completamente escuro – há uma emissão de gás ionizado, em todas as direções para onde olhamos, que só vemos se tivermos instrumentos sensíveis o suficiente. Este é o espantoso e inesperado resultado das observações ultra-profundas realizadas com o espectrógrafo MUSE.

Esta emissão, proveniente da infância do Universo, numa altura em que as galáxias eram muito menores que as atuais, é devida aos enormes reservatórios cósmicos de hidrogénio atómico que envolvem as galáxias distantes no Universo primitivo. Philipp Richter (Universidade de Potsdam), um dos membros da equipa, comenta: "Com as observações do MUSE temos uma visão completamente nova dos ‘casulos’ de gás difuso em redor das galáxias no Universo primordial”.

O instrumento MUSE, instalado no VLT (ESO) é um espectrógrafo que usa unidades de campo integral para espectroscopia 3D, para obter o espectro total de cada pixel do céu. Ao dispersar a luz nas suas componentes é possível “aprender mais sobre estas galáxias, tais como o seu conteúdo químico e movimentos internos — não para cada galáxia de sua vez, mas para todas as galáxias ao mesmo tempo!”, segundo explica Brinchmann, que até recentemente foi professor na Universidade de Leiden, nos Países Baixos.

A próxima vez que olharem para uma noite sem luar e virem as estrelas, tentem imaginar o brilho invisível do hidrogénio, o primeiro “tijolo” da formação do Universo, a iluminar a totalidade do céu”, comenta Themiya Nanayakkara (U. Leiden), outro membro da equipa.

 

Gabinete de Comunicação - Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço


© 2018 - Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva


Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço

Veja outros artigos deste/a autor/a.
Escreva ao autor deste texto

Ficheiros para download Jornais que já efectuaram download deste artigo