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A velhinha aspirina ainda traz surpresas

03 Nov 2011 - 12h22 - 3.000 caracteres

A aspirina, ou ácido acetilsalicílico, é talvez um dos mais antigos medicamentos comercializados pela farmacêutica moderna. A Bayer iniciou a sua produção e venda ainda no século XIX, mas registos do uso da casca de salgueiro (de onde se extrai o composto natural, que é mais agressivo para o estômago que o sintético!) remontam ao tempo de Hipócrates, há mais de 2300 anos. No entanto, esta pequena molécula parece ainda ter algo mais para dar à medicina moderna.

Num trabalho publicado na revista médica “The Lancet” (Janeiro 2011), cientistas mostram indícios de que a ingestão diária prolongada (mais de 5 anos) de aspirina pode ajudar a prevenir certos tipos de cancro, nomeadamente os do trato digestivo (como o cancro do cólon). E como é que foi possível chegar a esta conclusão? O grupo de investigadores do Reino Unido e Japão procurou dados de estudos médicos realizados com o intuito de testar o efeito a longo prazo da toma de aspirina na prevenção de doenças cardiovasculares. Estes estudos não estavam em nada relacionados com a investigação sobre cancro. Depois, estudaram os registos médicos dos participantes nesses estudos e compararam o número de casos e tipo de cancro detetado entre aqueles participantes que tinham tomado aspirina e os participantes que tinham tomado um placebo (o grupo de controlo). Usaram como variável o número de mortes devidas a cancro nos dois grupos. Considerando mais de 20 000 pacientes em 7 estudos diferentes, parece haver um efeito significativo da toma de aspirina a longo prazo na redução do risco de morte devida a cancro. Já havia suspeitas de que isto seria possível devido a estudos efetuados com outros animais, mas faltava a confirmação em seres humanos.

E como é que aspirina logra este efeito preventivo? Essa parte da história ainda está por deslindar, sendo necessários mais estudos. No entanto, pensa-se que poderá estar associado à inibição de várias moléculas relacionadas com processos inflamatórios e, por consequência, à redução destes. É esta ação da aspirina que também ajuda a reduzir as doenças cardiovasculares e a prevenir, por exemplo, a reincidência de ataques cardíacos.

Mas não vá a correr para a farmácia ainda! Há sempre que ter cuidado com este tipo de informação, já que são necessárias mais provas, que sejam encontradas por grupos de trabalho independentes, antes de serem tomadas medidas clínicas. É necessário também esclarecer ainda algumas questões que não puderam ser abordadas neste estudo, como: qual é a dose necessária? Durante quanto tempo? Tem mesmo que ser uma toma diária? Existe um possível efeito sobre outros tipos de cancro? Há também que ter em conta os efeitos secundários da aspirina (estão em estudo outras variantes da molécula que tenham menos efeitos negativos para o estômago, por exemplo). Fica a boa notícia e a esperanças de que novos dados façam mais luz sobre esta possível forma de protecção de cancros.

 

 

Diana Barbosa

3-11-2011

[Referência para controlo editorial: DOI 10.1016/S0140-6736(10)62110-1]

http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(10)62110-1/abstract


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Diana Barbosa

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