«Através do GPS, já contactei e fiz parcerias com cientistas portugueses»
Carla Silva é Directora Geral da Sharing Foundation, que investe em educação e ciência. Esta entrevista foi realizada no âmbito do GPS - Global Portuguese Scientists, um site onde estão registados os cientistas portugueses que desenvolvem investigação por todo o mundo.
Entrevista:
Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?
Abracei um projecto magnífico na Sharing Foundation, que não deixa de ser um desafio constante. A Sharing Foundation é uma Fundação voltada para a pedagogia diferenciada, alicerçada na meritocracia, baseada na temática da multiculturalidade e Interculturalidade, mas também promotora de culturas e línguas que fazem parte do desenvolvimento do ser humano. Como Directora Geral, coordeno os projectos científicos da fundação e toda a actividade científica e cultural, de forma a garantir a boa exequibilidade da missão da instituição, ampliando e qualificando os seus serviços e plataformas de conhecimento.
Esta posição também me permite ter um contacto próximo com todos os projectos da Sharing Foundation e os seus colégios internacionais, colocando-me em proximidade com outros espaços culturais e outros saberes, desde a Guiné Equatorial, Moçambique e Cabo Verde, à Rússia e países europeus, com os quais de outra forma não teria contacto. Os alunos das Sharing Foundation Schools, cujo curriculum se baseia na interculturalidade e multilinguismo, são alunos com uma preparação científica exigente e muito adaptada à necessidade pedagógica actual, e é para mim um privilégio participar neste projecto, não só pela ciência, mas também pela educação.
Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?
A fundação tem projectos na área da educação, na área do multiculturalismo e multilinguismo associados à sua rede de colégios ao nível nacional e internacional. No entanto, a par desta aliciante tarefa de coordenação, a oportunidade de promover o contacto com instituições científicas nacionais e internacionais e desenvolver e executar, junto com os demais responsáveis, as actividades inerentes à investigação e abrir espaços de aculturação da ciência junto da sociedade e dos jovens tem sido de grande satisfação pessoal e profissional. Estamos ainda convictos que observar e analisar o contexto político económico e social da nossa sociedade é uma importante função da missão da fundação e este cargo contém premissas com as quais se pode avaliar desempenho, produtividade e eficiência.
A administração da fundação aposta na inovação e no conhecimento e aqui tenho a liberdade e o espaço de criatividade para pôr em prática todos os conhecimentos associados à educação e a área de sistemas de Inteligência Artificial. Acreditamos que a tecnologia pode promover a aprendizagem numa metodologia inclusiva e integradora do aluno. Nos nossos projectos, pretendemos demonstrar sempre como boas práticas ao nível da inteligência artificial e bons casos de estudo podem ajudar a melhorar a gestão, a cultura e a aprendizagem do aluno.
Por que motivos decidiu fazer períodos de investigação no estrangeiro e o que encontrou de inesperado nessa realidade académica?
Na minha licenciatura em Coimbra, já tinha tido contacto com a investigação que era realizada fora de Portugal, através das experiências e partilhas que os nossos professores traziam às aulas ao longo dos 5 anos de curso. Contudo, a minha maior experiência foi quando obtive uma bolsa para realizar uma parte do meu doutoramento na Universidade Autónoma da Catalunha, em Espanha, Recordo-me de ter viajado com grande apreensão, pois além de deixar a família, por um tempo, senti-me insegura pois desconhecia a realidade de investigação que encontraria. E aquilo que pude observar foi um respeito enorme pelo meu saber, pelo meu trabalho e acima de tudo pela minha preparação científica. Quando planeei a minha bolsa, não tinha referências em Portugal para trabalhar aquilo que queria na área de Data Mining, e a oportunidade de trabalhar fora do país permitiu-me abrir os horizontes e alargar conhecimentos e experiências.
Trabalhei em equipas multidisciplinares oriundas de todos os continentes e constatei, aos poucos, que a minha preparação científica e técnica assegurava o meu campo de trabalho, o que me permitiu posicionar-me na linha de investigação e prolongar a minha estadia com um cargo de trabalho como assistente na Universidade.
Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?
Os investigadores portugueses são muito bem preparados e estão ao mais alto nível em investigação. Como disse, é de lamentar que em Portugal não se afirme uma posição mais concreta da carreira da investigação, pois quem perde é realmente o nosso país e toda a sociedade. Mas acredito que instituições sociais, entre as quais a Sharing Foundation, cada vez mais ajudam a valorizar os investigadores portugueses e a criar condições para que se forem equipas e se criem entre a ciência e a sociedade.
A aplicação de algoritmos de aprendizagem e a machine learning são áreas recentes na ciência em Portugal. Contudo, o nosso país tem realizado grandes desenvolvimentos em muitas áreas próximas, como a biomedicina e a robótica, ainda que muitas vezes com financiamento estrangeiro.
Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?
Posso confessar que gostava de ter tido contacto com a rede GPS quando estive fora. É muito tranquilizador partilhar experiências e saber que não se está isolado no caminho. A GPS promove esse encontro e cria essa amplitude de experiências. Posso dizer-vos até que, através do GPS, a Sharing Foundation já contactou alguns investigadores – que fazem agora parte dos nossos projectos científicos e são nossos parceiros em projectos europeus.
Consulte o perfil de Carla Silva no GPS – Global Portuguese Scientists.
GPS é um projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos com a agência Ciência Viva e a Universidade de Aveiro.
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