«Mais comunicação visual melhoraria como se fala, escreve e mostra ciência em Portugal»
Entrevista a Diana Marques, comunicadora visual de ciência que colabora com o Museu de História Natural do Instituto Smithsonian, nos Estados Unidos.
Nascida em Lisboa, Diana Marques estudou biologia e media digitais. Hoje trabalha como comunicadora visual nos Estados Unidos. Esta entrevista foi realizada no âmbito do GPS - Global Portuguese Scientists, um site onde estão registados os cientistas portugueses que desenvolvem investigação por todo o mundo.
Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?
Apresento-me como comunicadora visual de ciência: utilizo várias formas de comunicação visual – por exemplo ilustração, animação, fotografia, vídeos – para falar sobre temas científicos. As imagens (estáticas ou em movimento) que eu faço, a maior parte das vezes em colaboração com cientistas, são utilizadas em exposições de museu, livros escolares, artigos científicos e até selos. Encaixo-me no cruzamento entre a ciência e a arte com a minha formação em Biologia, Desenho e Ilustração Científica.
Interesso-me também por tecnologia, o que me levou a fazer um doutoramento em Media Digitais. Nesse âmbito integrei a equipa que produziu uma aplicação móvel para o Museu de História Natural do Instituto Smithsonian. Através de realidade aumentada os visitantes podem interagir com uma exposição de esqueletos no museu, vendo como os animais eram em vida e como a sua anatomia funciona. O estudo que fiz depois do lançamento da aplicação procurou perceber como a utilização da tecnologia alterou a experiências dos visitantes na exposição.
Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?
O poder da comunicação visual é facilitar o entendimento de assuntos científicos que por vezes são complexos, pouco familiares ou algo abstractos. Tem sempre um aspecto educativo, as mensagens que passamos são cuidadosamente construídas de forma clara e rigorosa para todos compreenderem da melhor forma possível. Mas tem também muito de encanto e entretenimento, queremos despertar o interesse e cultivar o gosto de ver as ilustrações e animações, pois assim se promove a interpretação e a ligação com os assuntos científicos. Assumimos um papel de tradutores e mediadores da ciência, e as pessoas costumam gostar de ver o que fazemos, o que é muito gratificante.
Por que motivos decidiu emigrar e o que encontrou de inesperado no estrangeiro?
A primeira vez que saí de Portugal, há mais de treze anos, foi para estudar ilustração científica nos Estados Unidos. Procurava aprofundar os conhecimentos que já tinha nessa área e estabelecer-me profissionalmente, o que veio a acontecer com mais facilidade, segurança e maior rapidez do que se o tivesse tentado fazer em Portugal. O que não esperava era encontrar uma segunda casa.
Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?
A comunicação visual em ciência – a ilustração científica em particular – tem-se desenvolvido muito em Portugal. Desde o primeiro workshop que frequentei em 1998 até hoje, as oportunidades educativas multiplicaram-se e afirmaram-se, assim como o número de praticantes profissionais e amadores. Tem sido um crescimento positivo que tem condições para continuar. No entanto parece-me que continua a haver um certo desligamento da produção científica. Um maior reconhecimento da importância da comunicação visual nos materiais científicos, quer dirigidos ao público em geral, quer à comunidade científica, melhoraria a forma como se fala, escreve e mostra ciência em Portugal.
Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?
O GPS mostra de uma forma imediata a dimensão e dispersão da comunidade científica portuguesa que trabalha no estrangeiro e possibilita conexões geográficas e interdisciplinares de outra forma menos prováveis de se estabelecerem. Desde a altura que criei o meu perfil no GPS, logo após o lançamento, até agora, surpreendeu-me ver o número de cientistas portugueses que vivem na mesma área do que eu a aumentar à medida que se foram cadastrando, e já tive oportunidade de reencontrar um colega que não via há vários anos e que agora trabalha a uma dúzia de estações de metro de distância.
Consulte o perfil de Diana Marques no GPS – Global Portuguese Scientists.
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