Super Terra é excelente candidata para a procura de sinais de vida
A equipa de astrónomos, que conta com a participação de Nuno Santos do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, encontrou este exoplaneta rochoso na zona de habitabilidade de uma estrela anã vermelha.
Num estudo publicado dia 19 de Abril de 2017 na revista Nature, uma equipa internacional de investigadores, da qual faz parte Nuno Cardoso Santos do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), descobriu uma super Terra a transitar a estrela LHS 1140, a menos de 40 anos-luz de distância.
O recém-descoberto exoplaneta LHS 1140b foi detetado pelo observatório MEarth através do método dos trânsitos, que permitiu calcular o diâmetro deste planeta. A descoberta foi depois confirmada pelo espectrógrafo HARPS (ESO), que através de observações com o método das velocidades radiaispermitiu a determinação da sua massa e período orbital. Com dados da massa e do diâmetro, a equipa calculou a densidade do planeta, determinando que este será uma super Terra.
Para Nuno Cardoso Santos (IA & Universidade do Porto): “Já em 2018, instrumentos como o ESPRESSO e o CHEOPS, nos quais a equipa do IA está profundamente envolvida, vão certamente permitir descobrir mais planetas como este. Esta descoberta mostra que estamos no bom caminho, e que as apostas feitas são as corretas.”
As observações do HARPS permitiram ainda determinar que o LHS 1140b orbita a sua estrela 10 vezes mais próximo que a Terra orbita o Sol, completando uma órbita a cada 25 dias. Mas como a estrela é uma anã vermelha, mais fria e pequena do que o Sol, o planeta recebe cerca de metade da energia que a Terra recebe da nossa estrela. Por isso, a sua temperatura será provavelmente, suficientemente alta para que possa existir água líquida.
Este planeta parece ser um excelente candidato a futuros estudos para procurar sinais de vida. Embora atualmente a estrela rode mais lentamente e emita menos radiação de alta energia que outras estrelas de pequena massa, no início da sua vida seria uma estrela bem mais ativa, emitindo radiação capaz de destruir a água existente na atmosfera do planeta. Esse processo poderia levar a um efeito de estufa descontrolado semelhante ao que observamos em Vénus.
No entanto, o diâmetro do planeta indica que um escaldante oceano de magma pode ter existido à superfície durante milhões de anos, libertando vapor de água para a atmosfera durante tempo suficiente para continuar a abastecer a atmosfera com água. Essa água pode então ter passado ao estado líquido depois do planeta arrefecer, tornando-o potencialmente habitável.
A equipa estima que o LHS 1140b terá pelo menos 5 mil milhões de anos, um diâmetro de quase 18 mil quilómetros (cerca de 1,4 vezes maior que o da Terra), mas terá uma massa 6,6 vezes maior do que da Terra. A sua densidade é por isso também superior à da Terra, o que sugere que este seja rochoso, com um denso núcleo de Ferro.
A equipa irá realizar em breve observações com o Telescópio Espacial Hubble, para determinar com precisão a quantidade de radiação que atinge o LHS 1140b, o que irá definir com maior exatidão os limites de habitabilidade do planeta.
Este planeta será um alvo ideal para observações detalhadas das atmosferas de exoplanetas, a serem realizadas pela próxima geração de telescópios, como o Telescópio Espacial James Webb, a ser lançado em 2018, ou com os telescópios terrestres gigantes, como o E-ELT (ESO), a partir de 2024.
Referência para o artigo “A temperate rocky super-Earth transiting a nearby cool star” foi publicado na revista Nature, Vol. 544, issue 7650, 20 april 2017 (DOI: 10.1038/nature22055)
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